quinta-feira, 28 de agosto de 2014

3º DIA XIV & IX ENCONTROS ESPÍRITAS SEJA/CAMINHO DE LUZ

COMPREENDER E VIVER O EVANGELHO

 O terceiro dia das atividades (Sábado, 26.04.14) começou, na parte da tarde, com o seminário “Compreender e viver o Evangelho: contribuições para um pensar esclarecido” desenvolvido pela excelente professora Adalgisa Campos Balieiro, que fizera a palestra na noite anterior.

 Em suas ricas reflexões considerou que, de modo geral, entendemos muitas coisas e achamos que o que entendemos é suficiente, sendo importante perceber sobre o que queremos dizer quando falamos o que falamos, destacando que o campo das relações pressupõe a aceitação e o respeito ao outro.

Ponderou que quando dizemos que somos espírita, temos que dizer qual o critério que usamos para dizer-nos espírita. O que o espírita faz para que possamos identificar-nos com o ser espírita? O que o Espiritismo recomenda?

Enfatizou que aprender significa mudança, pois se a pessoa diz que aprendeu e não mudou, efetivamente, não aprendeu, havendo uma necessidade de viver de acordo com o que se aprende.

Ponderou que é na interação com o meio que processamos o nosso desenvolvimento, pois o conhecimento de si acontece na relação com o outro, que lhe revela. Tudo o que o outro lhe faça é reflexo do que você faz a si mesmo e quem não faz contato com as emoções não muda. Quanto mais fizermos contato com a realidade interior, mais identificamos a própria realidade, tornando-se muito salutar fazer contato com as emoções e entender porque fazemos da forma que fazemos.

Enfatizou que somente mudando o que a pessoa pensa muda-se o como ela faz. O que a pessoa faz é o que a pessoa é, pois a pessoa só faz o que sabe.

Ensinou que no campo das relações ninguém ensina nada a ninguém, sendo a experiência do aprendizado o resultado de um acoplamento entre as partes, que processa a interação para a transmissão dos conteúdos de uma alma à outra. São as emoções que especificam as ações e as escolhas que fazemos formam imagens que não nos abandonam, povoando nosso campo mental.

Apresentou o papel do sistema nervoso e do corpo físico na condução das experiências humanas, enaltecendo o significado do Evangelho de Jesus na construção de uma vivência saudável do Espírito na realização de sua jornada existencial.

FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO

À noite, o palestrante Marcel Mariano, de Salvador, explanou sobre o tema “Fora da Caridade não há salvação”, discorrendo que coube à teologia tradicional, ao investigar os Evangelhos de Jesus, a tarefa de definir o que passou à História como sendo “as virtudes teologais”, diagnosticadas como a fé, a esperança e a caridade.

Ponderou que a nossa fé parece uma vaga de mar que bate no rochedo, quanto bate na praia, pois o indivíduo não se apruma e não se aprofunda, ficando sempre na superfície sem descer na profundidade do conhecimento teológico do campo de sua experiência.

Ressaltou que, como afirmou Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita, estamos na era da fé cega. Com isso, torna-se necessário ter fé lúcida. A fé que raciocina, a fé que pensa, a fé que medita, a fé que questiona: por que? onde? como? quando? de que modo? para onde? A fé que pergunta e não tem medo de multiplicar as interrogações, para obter as provas, os caminhos, os roteiros.

Questionou onde se encontrar uma fé robusta que possa se sustentar e sustentar o indivíduo nesses dias de impermanência de tudo, pois, o que se tem hoje, não se tem amanhã; o que parece, hoje, sólido, amanhã virou água, virou nada.

Destacou que a necessidade de encontrar, sobretudo, no campo religioso, uma fé sólida, uma fé que pensa e raciocina, foi a proposta de Allan Kardec ao codificar o Espiritismo, e com o lançamento de o Evangelho Segundo o Espiritismo, em 29 de abril de 1864 - obra que completa 150 anos -, o indivíduo é convidado a pensar e fazer da fé uma base sólida, um alicerce onde ele possa edificar sua residência íntima. A obra representa um contributo a uma fé robusta, a uma fé sólida.

Considerou que a Teologia ao perceber que a fé era uma virtude de aquisição desafiadora, compreendeu que Jesus trouxe para os deserdados da Terra, a esperança - a ciência de quem sabe esperar, destacando, no entanto, que a espera deve se dar com calma, com tranquilidade, com serenidade, porque todos aguardam, porém, muitos se deixam invadir pelo desequilíbrio, pelo clima de conflito, pela ansiedade, pois tudo é para ontem; nada é para amanhã; vivendo, assim, uma sociedade estressada, ansiosa, aflita, precipitada, impaciente. Onde estaria, então, a esperança?

Ponderou que é preciso mergulhar nessa aquisição da alma, que é a esperança, e conferir como ela funciona, como ela pode ser adquirida para termos dias menos tormentosos nesses meses, anos e século que estamos atravessando e, nisso, a vida de Jesus é um poema de esperança, pois Ele sabia aguardar. A cada dia basta o seu mal. Não vos preocupeis com o dia de amanhã, vos preocupeis com o dia de hoje, Deus proverá o dia de amanhã. Nisso, Ele trazia uma ideia embutida: a da imortalidade, pois somos imortais; vamos viver para sempre. Nunca mais seremos destruídos. O vaso físico não passa de embalagem, cujo conteúdo teve um começo que não terá mais fim. O psiquismo é imortal. Vamos, portanto, vivendo o dia após o outro, sem ansiedade e com esperança.

Após refletir sobre as virtudes da fé e da esperança encaminhou-se, com a Teologia, para a última virtude: a caridade, hoje, interpretada por muitos como o amor, o amor em movimento. Enfatizou que quando o amor se movimenta para socorrer o outro, beneficiar o outro, a caridade se materializa na Terra, e Allan Kardec, por justiça, fez incluir em O Evangelho Segundo o Espiritismo, no cap. XV, o tema “Fora da caridade não há salvação”, porque a tradição depois da criação da Igreja Romana, no ano 303, da nossa era, veio trazer a ideia de que fora da igreja não há salvação, o que nos levaria a perguntar: qual delas?! Em qual delas eu encontro a salvação?! Considerou que em sendo assim fica a dúvida, pois Deus passa a ser patrimônio dessa, daquela outra, e as pessoas se debatem entre essas e aquelas porque a outra não tem a presença de Deus.

Ressaltou, Marcel, que a Doutrina Espírita interpretando o Evangelho vem nos trazer a ideia clara, e simples, de que a salvação da alma está condicionada ao exercício das virtudes, a vivência do amor. Portanto, preferível o indivíduo caridoso, sem religião, do que o indivíduo que adota um rótulo religioso, cuja vida seja um poema à hipocrisia. Observou que a despeito das muitas igrejas, dos muitos templos, há pouca prática de religiosidade nas almas, com a vivência dos postulados, porque toda a Boa Nova, o Evangelho de Jesus, é um poema à caridade a si, ao próximo e a Deus.

E a caridade para consigo começa na aceitação de quem somos. Compreender que é necessário ter caridade para consigo, se aceitar como é; fazer valer os valores que já se possui, pois sabemos dos nossos limites e das nossas possibilidades e o que já somos. Destacou o pensamento paulino em sua bela epístola: “graças à Deus já sou o que sou. Ainda não sou o que deveria, mas, graças a Deus, já sou o que sou”.Enfatizou que já fizemos um grande avanço intelecto-moral na Terra e que nos falta humanizar esse avanço, para que ele não nos tornem pedras de gelo, criaturas secas, áridas.

Insistiu que precisamos ter a ternura do sentimento, por isso caridade para conosco; aceitar que erramos, pois só acerta quem erra; só cai quem um dia esteve de pé; se nunca caimos, é porque nunca nos levantamos! Ter a caridade de se aceitar e de conversar consigo. Aprender com o erro que nos ensina a adquirir a humildade, a simplicidade, pois ninguém sabe de tudo e todas as pessoas desconhecem alguma coisa.

Após discorrer sobre a caridade a si, Marcel conduziu suas reflexões sobre a caridade para com o próximo, destacando que em O Livro dos Espíritos, na questão 886, Allan Kardec interroga as vozes venerandas da imortalidade sobre qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus? Qual a interpretação que o Cristo tinha da palavra caridade, a ação da caridade? E os Espíritos Nobres responderam que para Jesus: “a caridade tinha 3 significados: benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições alheias e perdão incondicional das ofensas”, o que fez Marcel considerar que a resposta apresenta as três virtudes novamente, nos fazendo voltar às virtudes teologais.

Ponderou que benevolência é o ato de ser benévolo e, que, hoje, nós interpretamos como a doação de coisa. Para demonstrar que é boa, a pessoa dá presentes, compra um objeto e dá à pessoa a quem quer presentear. Isso pode representar filantropia, generosidade, um artifício psicológico para comprar a pessoa que vai receber o presente. Damos o presente para passar a ideia de que sou uma pessoa boa. Mas, eu dou a coisa; eu não me dou. Considerou que benevolência não é dar coisas.

Ressaltou que a benevolência é valiosa como dádiva que o outro precisa, porque se visitamos uma costureira e ela deseja fabricar qualquer peça, podemos dar uma máquina, um estojo, o que para ela será valiosíssimo, ou, um pedreiro que deseja trabalhar e não pode sequer comprar as ferramentas de manipulação, e, então, oferecemos a ele um kit de ferramentas e aquele homem estará profundamente agradecido.

Elucidou que a caridade para com o outro é aceitá-lo com as suas imperfeições, daí benevolência, indulgência para com as suas imperfeições. Portanto, não exigir dos outros primores de qualidade, que não temos, pois não podemos exigir dos outros virtudes que ainda não acrisolamos nem desenvolvemos.

Por último, considerou sobre o perdão, que segundo afirmou, está confirmado, hoje, que é terapêutico, pois quem perdoa tem saúde, liberta-se da insônia, tem menos problemas, menos conflitos, menos alergias, menos urticárias, menos erisipelas, porque se liberta de lixo interno. Quem guarda mágoa, adoece, pois de tanto alimentar a mágoa adoece a mitose da célula, e a célula, no processo de mitose, que é sua divisão, faz uma divisão equivocada, gerando neoplasias malignas ou benignas, os cânceres.

Enfatizou que perdoar faz bem e que muitos dizem que não se esquecem do mal sofrido, esclarecendo que esquecer está relacionado a memória e que o fato que nos marca guardamos a vida toda. É memória. Mas, o perdão é sentimento.

Indagou sobre o que é perdão? Respondendo que é não desejar a quem me fez mal um novo mal; é dizer para a pessoa que vá em paz; vá com Deus, pois o mal que se fez a nós é problema de responsabilidade de quem o fez. O mal que nos faz mal é o mal que nós fazemos, porque desequilibramos a Lei que há em nós, como demonstrado na Questão 621, de OLE, e desequilibramos a Lei no outro. Por isso, Allan Kardec, no livro O Céu e o Inferno, na parte do código penal da vida futura, no item 16, diz claramente: depois da ação infeliz o indivíduo passa por três etapas: arrependimento, expiação e a reparação. Quando fazemos a ação infeliz e sabemos que ela é infeliz, vem o arrependimento, mas, é tarde, porque já está feito. Surge, então, a necessidade de expiar, o que não elimina o problema do outro, pois o outro foi atingido no bem que lhe é caro. Quando saímos da expiação, é hora de devolver o que tiramos do outro, incluindo a questão da reparação. Por isso disse Jesus: não saireis daqui antes de pagares o último ceitil.

Destacou que a benevolência, a indulgência e o perdão são terapêuticos e são as companheiras diletas da caridade, que é o amor em movimentação. Por isso, a teologia consagra essas três virtudes como teologais, as virtudes evangélicas, e o Espiritismo consagra a caridade como uma base essencial para a evolução, quando a afirma como um lema: fora da caridade não há salvação.

Indagou, em suas reflexões, de que salvação estamos falando, pois está muito corriqueiro falar-se de salvação.

Enfatizou que estamos sempre temerosos, receosos, e é necessário que essa caridade seja entendida como salvação do perigo que somos de nós mesmos, pois temos que nos salvar de nós mesmos, já que o nosso maior adversário, inimigo e algoz, somos nós mesmos, e que quando desejarmos ver o nosso maior inimigo basta ficarmos em frente de um espelho, e estaremos vendo o nosso pior adversário, porque nós somos aquele que conspiramos e sabotamos a nós mesmos.

Considerou que há uma necessidade premente de sentar-se consigo e conversar, convidando a si mesmo para fazer as pazes, através de uma conversa diplomática, onde tenhamos possibilidades de avançar. Citando Pedro Ouspensky, no seu livro “A psicologia da evolução possível ao homem”, Marcel apresentou que nós somos um eu constituído de muitos eus e, os eus, constituem a individualidade que somos, sendo necessário uma autorregeneração, à luz da caridade.

Destacou que o caminho da salvação na Terra, e no além, é o exercício do amor, que se transforma em caridade que socorre a formiga, o inseto, a planta, o animal, o homem, o outro, o semelhante, a nós mesmos. O gesto de generosidade, por mínimo que seja, é valioso contributo para devolver a esperança a alguém.

Finalizando suas reflexões concitou a levantar o clima da fé em alguém, dizendo-lhe que nem tudo se perdeu e que é preciso acreditar no futuro. Enfatizou que nesses dias tão sombrios, quando ligamos o televisor, em qualquer telejornal, em qualquer emissora, vemos guerra e tragédia, quando, ainda, estamos nos recuperando dos conflitos. Precisamos de caridade nestes dias para socorrer a criatura humana em desvario, que perdeu o rumo à Deus, Deus que continua sabendo onde cada filho mora, a nós nos faltando, agora, descubramos onde mora Deus. E Ele não está fora, Deus está na intimidade do próprio ser, está no coração da criatura humana.


Fotos: Vanderlei Gonçalves da Silva.