Aprendendo com Joanna



Aprendendo com Joanna de Ângelis
 As experiências vivenciadas pelo Nobre Espírito Joanna de Ângelis no transcurso de suas reencarnações, que nos foram dadas conhecê-las, representa uma fonte de lições enriquecedoras para nossas vidas e amplia nosso conhecimento dessa alma Nobre e Amorosa.
“E se a gente usasse o relato das vidas de Joanna para tirarmos para nós algum aprendizado?”
A pergunta, formulada pelo autor do texto, nos faz pensar que podemos fazer boas reflexões e, de alguma forma, aplicá-las como orientação para a nossa jornada em busca do nosso autoconhecimento e encontro com Deus.
As reflexões a seguir formam recortes do texto de autoria de Renato Costa, que se encontra na íntegra neste blog, mas, aqui destacadas e representando as respostas à questão acima. Assim, parecerá em algum momento que talvez falte alguma parte. Não se perturbem. A parte que estará ausente se refere aos detalhes de cada vida de Joanna que resolvemos excluir para direcionar ao nosso objetivo. Aqueles que o desejarem poderão consultar todo o texto “Aprendendo com Joanna de Ângelis”, aqui mesmo no blog.
Pensemos um pouco sobre isso.

Evolução e Aprendizado
Sabemos, conforme nos ensina a Doutrina, que o Espírito deve evoluir em sabedoria e bondade desde seu estágio inicial, quando é criado simples e ignorante, até alcançar a meta final, qual seja, a perfeição dos Espíritos Puros.
Evolui o Espírito, basicamente, de duas maneiras. Uma delas se dá quando um Espírito mais adiantado que ele lhe ensina algo que sabe e ele, com humildade, aceita o ensinamento recebido e passa a agir e pensar em conformidade com o que aprendeu. Essa maneira, sem dúvida a mais rápida e suave e a única necessária para a aprendizagem de Espíritos já esclarecidos, é, no mais das vezes, imprópria para a aprendizagem de Espíritos ignorantes, que estão sempre a duvidar da experiência alheia e nada aceitam sem que eles mesmos possam vivenciar as experiências que os outros reportam ter vivido.
Ocorre, no entanto, que, quanto mais evoluído é um Espírito, mais paciente e indulgente ele é e, em lugar de, conhecendo nossas fraquezas, largar-nos aos nossos primitivos critérios de escolha, ele prefere apostar sempre em nós e segue nos ensinando sempre, com palavras e experiências de vida, confiante que, um dia, despertemos de nossa letargia espiritual e constatemos que as leis de Deus são supremas e a todos se aplicam sem exceção, passando a aceitar os ensinamentos recebidos e os exemplos de vida relatados como se nossas próprias experiências e lições aprendidas fossem.
Atingida a condição de bons discípulos, simplificaremos para nós mesmos as etapas de aprendizado, mais tempo nos restando para dedicarmos às boas ações, ao resgate de nossas dívidas, ao engrandecimento de nossa mente em direção ao que é puro, ao que é belo, ao que é sagrado.
Tendo em mente o que acabamos de pensar, quais bons discípulos, procuremos extrair dos relatos das vidas de Joanna os profundos ensinamentos que eles nos trazem, para procurarmos usá-los em nossa conduta daqui para frente.

Joana de Cusa

imagem: espirita1976.blogspot.com (filme: Jesus)

(Em uma das muitas perseguições que sofreram os cristãos nos primeiros séculos, foi encarcerada com seu filho e outros seguidores de Jesus e levada ao circo em Roma. Lá, no dia 27 de agosto do ano de 68, foi sacrificada  numa fogueira junto com o filho e diversos outros mártires que se negaram a abjurar sua fé.)
Em nosso modesto estágio evolutivo as lições que podemos tirar da existência de Joana de Cusa, nos aponta para que tenhamos sempre destemor em defender os ensinamentos de nosso Mestre e amigo. Não sejamos covardes, omitindo-nos frente a injustiças, quando podemos enfrentá-las com a luz do conhecimento que adquirimos. Não importa o quanto as circunstâncias nos sejam desfavoráveis, jamais abandonemos os ensinamentos de Jesus, sendo pacientes, gentis e dedicados para com todos aqueles que nos cercam, não importa se nos tratam bem, mal ou com indiferença. Desenvolvamos nossos sentidos para que aprendamos a amar aos que nos ofendem ou prejudicam, vendo neles irmãos mais atrasados que nós e que, por isso mesmo, necessitam de nossa ajuda e compreensão.
Ensaiemos em pequena escala, desde já, essa atitude sublime de Joana de Cusa. Se ainda não conseguimos amar nossos inimigos, que comecemos aprendendo a não mais odiá-los. Se ainda não conseguimos utilizar o conhecimento que adquirimos para levar a luz onde as trevas predominam, que, pelo menos, aprendamos a não aumentar as trevas com nossos sentimentos desencontrados, dominando nossas emoções e educando nossa mente para o bem.
Jesus não espera de nós mudanças radicais, pois conhece nossas deficiências e fraquezas. Espíritos adiantados seguem Jesus mais de perto para que possamos enxergar a meta a atingir. Mas, como diz o velho ditado, o caminho de mil milhas começa com o primeiro passo. Que tenhamos determinação, pois, para dar o primeiro passo. Com os olhos fixos na meta, um dia chegaremos lá.
A nosso ver, existe uma lição de imensa importância que não pode passar-nos desapercebida.
Estávamos, em um Sábado à tarde, preparando este estudo e nada de nos vir a inspiração fácil. A introdução, que tínhamos feito em um dia de semana à noite, depois de nossos filhos terem dormido, havia corrido solta da mente ao teclado do computador, direta, sem dúvidas, sem hesitações. Por que o texto seguinte vinha sendo tão difícil? Escrevíamos, apagávamos, escrevíamos de novo, o trabalho não ia adiante. Por que? Foi, então, que algo nos veio à mente: “Não está na hora de estar com as crianças?”. Paramos tudo e fomos brincar com elas, assim ficando até de noite quando foram dormir. Uma hora, nesse meio tempo, quando saímos com eles para comprar refrigerantes, mais uma idéia nos veio à mente: “Como quer ensinar aos outros algo que ainda não aprendeu?”
A outra lição dessa vida de Joana de Cusa foi o ensinamento que lhe foi dado por Jesus. Quando ela quis segui-lo, o Mestre lhe disse que não o fizesse, antes ficando junto de seu marido para tornar-se, junto a ele, um exemplo de vivência cristã, cumprindo a missão que lhe havia sido confiada.
A missão principal de quem constitui família é junto a ela, exemplificando, pelo seu comportamento e pelas suas palavras, o verdadeiro significado de ser cristão. Quem coloca a atividade que considera cristã ou, no caso que nos interessa, espírita, na frente de seus deveres para com a família, deveres esses sempre assumidos na espiritualidade, se equivoca se pensa que tal é a vontade de Deus. Não. Não foi isso que Jesus ensinou a Joana e que o relato de sua vida nos permite aprender.
O trabalhador espírita deve ser absolutamente sério com os compromissos assumidos, tanto na casa espírita, quanto no trabalho que lhe traz o sustento, quanto no lar, jamais faltando a qualquer deles por motivo fútil ou pueril. No entanto, jamais deverá ignorar uma necessidade real da família sob a alegação de que um compromisso com a casa espírita, ou, por outra, com o trabalho, lhe demanda a presença. Se existem pais espíritas cujos filhos não seguem o Espiritismo, se existem filhos de pais trabalhadores que se desencaminham na vida, não estará aí uma indicação de que essa lição que nos passa a vida de Joana de Cusa não foi aprendida?



Sóror Juana Inés de la Cruz (1651-1695)

Vejamos o que nos é possível aprender da vida de Sóror Juana Inés de la Cruz.

O que nos chama a atenção, primeiramente, é a gana por saber que Juana demonstrou desde pequena. Não apenas lia ela as obras teológicas, antes estudando com afinco todos os ramos do conhecimento humano, argumentando com habilidade em sua resposta a “Sóror Filotea” (Dom Manuel, bispo de Puebla) sobre a necessidade de tais estudos.

Não nos limitemos, pois, a estudar obras espíritas de cunho religioso ou moral. Se aquela página de A Gênese ou de uma das obras de André Luiz nos parece difícil de entender é porque nos falta estudo científico. Se não encontramos na Codificação resposta exata a um problema que nos assalta no cotidiano, quem sabe nos falta conhecimento sobre sociologia, história ou filosofia?

Temos toda a eternidade para aprender. No entanto, Sóror Juana, com seu exemplo, nos mostrou que devemos agir como se tudo devêssemos aprender em uma só vida. Na senda da evolução, mesmo sabendo que temos toda a eternidade para aprender, devemos nos portar em cada vida como se ela fosse nossa única oportunidade de atingir a perfeição.

Se nossa condição evolutiva ou as circunstâncias por que passa a nossa vida tal não nos permitem, façamos, pelo menos, o que está a nosso alcance. É certo que cada um de nós teve um preparo diferente nesta vida, uns tendo estudado mais e outros menos. É certo que a constituição física do encéfalo de cada um de nós permite maior ou menor expressão de nossa capacidade mental.

Se, no entanto, aprendemos a ler, existem várias boas obras de divulgação disponíveis à espera de nossa iniciativa. Mãos à obra, portanto. Estudemos o máximo que pudermos no tempo que nos for possível.

Se sequer a ler nos foi possível aprender nessa vida, se nossos olhos são doentes e a leitura nos é dolorosa ou impossível, ainda assim o estudo não nos é vedado, havendo uma  infinidade  de casas espíritas com horários públicos dedicados a  estudos da Doutrina, pessoas  à nossa volta a quem apraz  uma conversa salutar e programas de rádio e boa qualidade, demandando tão somente o tempo de uma escolha criteriosa.

Podendo escolher entre um programa fútil na TV e um educativo, escolhamos o educativo. Podendo escolher entre uma boa leitura e uma conversa sobre trivialidades, escolhamos a boa leitura ou, por outra, dirijamos o colóquio para assuntos construtivos. Podendo escolher entre ficarmos em casa ruminando nossas deficiências e irmos para locais onde podemos aprender, tenhamos coragem e façamos a melhor escolha.

Como dissemos antes, se ainda não nos julgamos preparados para seguir o exemplo de Sóror Juana que, pelo menos, ensaiemos os primeiros passos nessa direção.

Sóror Juana ensinou-nos, também, a ter desapego aos bens terrenos e senso de prioridade. Ao decidir dedicar-se à caridade, vendeu todos os seus livros e pertences para aplicar o dinheiro no amparo aos necessitados. Possuía aqueles livros e instrumentos para se instruir e não como objeto de posse. Decidindo dedicar-se de corpo e alma à caridade, não titubeou em deles se desfazer.

O Espírito da Verdade, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Cap. VI, Item 5, nos conclama “Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo.”

Se nos instruirmos é o segundo mandamento, nos amarmos é o primeiro. E se, para exercermos o amor cristão, é necessário que abramos mão do impulso urgente de instrução, que assim o façamos.

Mais uma vez, lembremos que muitas iniciativas modestas podem ser inspiradas pela atitude de Sóror Juana. Digamos que uma pessoa que se encontra em perturbação nos peça emprestado um livro de que gostamos e não nos o devolva. Aceitemos isso com naturalidade, pensando que nas mãos dela aquele livro talvez seja mais útil que nas nossas. Se nosso maior desejo é estudar e nos aparece uma oportunidade de ajudar a quem necessita, saibamos interromper nosso estudo para sermos úteis ao nosso irmão. Se estivermos com tudo marcado para ir naquela palestra de um orador famoso e nos aparecer uma pessoa carente de nosso carinho, querendo conversar conosco ou apenas alugar nossos ouvidos para desabafar, tenhamos paciência e saibamos, como Sóror Juana, que, quando a caridade cristã se faz necessária, o estudo pode e deve ficar para depois. É claro que devemos ter nossos sentidos e razão atentos para não confundirmos reais necessidades com fingimento ou exagero de emoções. No entanto se não tivermos com diretriz que a caridade se impõe à instrução, corremos o risco de falhar quando mais se espera de nós.

Lembremos sempre que caridade não é apenas o ato de dar esmolas ou de se alistar como voluntário para ajudar em um asilo, em um orfanato ou em outra instituição do gênero. Não, caridade é algo para ser praticado a toda hora. Ter paciência para escutar e aconselhar a quem sabe menos que nós, quer assim se reconheça quer o ignore e se julgue mais sábio. Caridade é saber ouvir, dando atenção a todos, não importa a idade, o sexo, a raça ou a religião. É ter olhos para todos os seres à nossa volta, não fazendo mal a nenhum e a todos dirigindo um olhar de amor, de aceitação, reconhecendo sermos todos, sem exceção, filhos do mesmo Pai.




Joana Angélica de Jesus (1761-1822)

Temos uma interessante lição a comentar. Após o brilho da personalidade de Sóror Juana Inés de la Cruz, Joanna reencarnou com discrição. São poucas as referências disponíveis sobre a vida da heroína de nossa Independência. Nos livros de História, apenas o evento final de sua vida é contado. Somente agora em nosso século estudos têm sido feitos por pesquisadores da UFBA sobre os escritos de Joana Angélica durante o tempo em que esteve como escrivã do Convento da Lapa e, mais tarde, como Abadessa. Tais estudos, no entanto, ainda carecem de maior divulgação e por muito tempo talvez assim permaneçam.
Joanna nos ensinou que um Espírito evoluído não deve aspirar ao reconhecimento e à fama. Se Sóror Juana brilhou como estrela de primeira grandeza no panorama cultural do século XVII, tal não se deu porque buscava a fama ou o reconhecimento alheio. Brilhou por fora porque já era brilhante por dentro e, na busca do saber, não poupou esforços, a todos causando admiração pelos resultados que obtinha ao perseguir o seu intento. No entanto, ao perceber, pela reação negativa que sofreu, que a fama que havia adquirido não lhe convinha, de pronto a tudo renunciou, encolhendo-se aos olhos dos homens e agigantando-se aos olhos de Deus no serviço anônimo de amparo fraterno.
Quando voltou, no século seguinte, reencarnando na Bahia, elegeu desde cedo a discrição, sem, contudo, abandonar a busca pelo saber, a coragem, o amor aos seus irmãos e todos os demais atributos que, Espírito evoluído, já havia conquistado.
Na defesa dos nossos semelhantes frente às injustiças e agressões, devemos ser destemidos e imbuídos de fé, na certeza de que estamos a seguir os ensinamentos de Jesus exemplificados por Clara de Assis e Joana Angélica. Se nossa condição física não nos garantir sucesso na empreitada, os bons Espíritos estarão lá, prontos e dispostos a ajudar.
Se nossa fé não é tão intensa a ponto de afugentar os agressores, se nossa coragem não é tão grande a ponto de colocarmos nosso corpo entre eles e aqueles a quem desejam ferir, que façamos, pelo menos, o melhor que nossas limitações nos permitem.
Fiquemos do lado de quem está do lado do bem, apoiemos as iniciativas nobres em defesa dos fracos e oprimidos.
Caso sejamos ainda menores e medrosos, se ainda não nos sentirmos sequer capazes de apoiar quem luta para proteger nossos irmãos das injustiças e agressões, que pelo menos não as cometamos nós, nem estejamos do lado de quem as pratica.
           Ora, se o que temos a dizer nenhum bem traz e causa perturbação a alguém, por mais humilde e ignorado que seja esse alguém, é sempre melhor que nos calemos.